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Tadeu Kaçula

Tadeu Kaçula

CARNAVAL/SP. Sambista, sociólogo e pesquisador das origens do samba e da cultura tradicional de São Paulo. Fundador do Instituto Cultural Samba Autêntico e do Projeto Rua do Samba Paulista. Idealizador e produtor do projeto Memória do Samba Paulista, que reúne uma coleção com 12 CDs dos principais sambistas e Velha-Guardas das Escolas de Samba de São Paulo. Diretor cultural da Uesp - União das Escolas de Samba Paulistana - e membro do departamento cultural da Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo. Ex-presidente da Escola de Samba Mocidade Camisa Verde e Branco. Autor do livro "Casa Verde - Uma pequena África na Zona Norte de São Paulo".

* Os textos desta seção não representam necessariamente a opinião deste veículo e são de responsabilidade exclusiva de seu autor.



24/07/2015 02h20

100 anos de samba urbano em São Paulo - parte 4
Tadeu Kaçula

O Carnaval em São Paulo teve uma significativa transformação cultural em sua centenária trajetória. Esse marco tem início em 1914 e foi nesse ano que Dionísio Barbosa, filho de escravo e um dos primeiros negros nascidos livres no Brasil, apaixonado pelos ranchos carnavalesco e inconformado com os corsos da alta sociedade paulista, uma folia exclusiva dos ricos e brancos, reuniu seus familiares e amigos para formar o Grupo Carnavalesco da Barra Funda posteriormente batizado de Grupo carnavalesco Camisa Verde, que desfilava pelas ruas do bairro da Barra Funda e adjacências com camisas verdes e calças brancas.

Grupo Barra Funda. Foto: Acervo

De certa forma, para época, esse grupo era considerado um "Quilombo urbano de resistência cultural" devido às características e costumes de seus integrantes.

O Grupo Carnavalesco Camisa Verde, entrentou sérios problemas de ordem política.

A cor adotada pelos integralistas da Ação Integralista Brasileira, frente política de oposição ao governo centralista de Getúlio Vargas, também era o verde.

Em meados de 1936, confundidos com simpatizantes da Ação integralista brasileira de Plínio Salgado que era oposição ao regime militar, os foliões do Grupo Carnavalesco Camisa Verde são perseguidos pela polícia política de Getúlio Vargas e deixam de aparecer publicamente e passam a viver na clandestinidade como uma forma de resistência aos anos de luta pela cultura do samba.

Seo Dionísio Barbosa. Foto: Acervo

O Grupo Barra Funda foi o pioneiro nas manifestações carnavalescas que ocorriam na periferia da cidade e desencadeou uma serie de iniciativas por toda a cidade.

Fio de Ouro, Rosas Negras, Paulistano da Glória, Vae-Vae, Coração de Bronze, Campos Elíseos, foram alguns dos cordões fundados em diferentes regiões da cidade com a finalidade de brincar o carnaval de rua, atividade esta que tomava força a cada ano e, com isso, o carnaval de São Paulo ganhava força.

Sem apoio das autoridades, com poucos recursos e marginalizado por uma parte da sociedade os cordões passam por dificuldades para saírem às ruas e, mesmo passando por estes problemas, os últimos Cordões a trocar o estandarte por pavilhão foram os Cordões Camisa Verde e Branco e Vai-Vai.

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02/07/2015 11h32

Tributo a Odair Menezes!
Tadeu Kaçula

Presto a minha sincera homenagem a um dos maiores músicos da história do samba no Brasil!

Odair Menezes. Foto: DivulgaçãoOdair Menezes nos deixou na última madrugada e com ele se foi um legado de uma vida dedicada à música popular brasileira!

Virtuoso em tudo que fazia, Odair Menezes ficou marcado na história pela maneira peculiar de tocar seu cavaquinho, pelo sorriso largo e sempre presente em seu semblante e como tocador de prato oficial da Bateria Furiosa da Barra Funda!

Compositor de samba-enredo, cantor, ritmista, cavaquinista e músico genial de primeira linha, Odair integrou a ala de compositores da tradicional escola de samba Camisa Verde e Branco em 1976.

Que Dzambi te receba e coloque no mais alto lugar junto de nossos ancestrais!

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11/06/2015 00h04

100 anos de samba urbano em São Paulo - parte 3
Tadeu Kaçula

O samba urbanizado. Esse marco tem início em 1914. Foi nesse ano que Dionísio Barbosa, filho de escravo e um dos primeiros negros nascidos livres no Brasil, apaixonado pelos ranchos carnavalescos e inconformado com os corsos da alta sociedade paulista, uma folia exclusiva dos ricos e brancos, reuniu seus familiares e amigos para formar o Grupo Carnavalesco da Barra Funda. Posteriormente batizado de Grupo carnavalesco Camisa Verde, desfilava pelas ruas do bairro da Barra Funda e adjacências com camisas verdes e calças brancas.

100 anos de samba urbano em São Paulo. Foto: Acervo

De certa forma, para a época, esse grupo era considerado um Quilombo urbano devido às características e costumes de seus integrantes. O bairro da Barra Funda, com o plano diretor daquele tempo, era considerado um bairro periférico e a maioria dos moradores era de negros que moravam nos porões dos casarões nas imediações da estrada de ferro da Sorocabana.

O extinto Largo da Banana, hoje Memorial da América Latina, é considerado o marco zero do samba paulistano por se tratar do ponto de encontro mais importante dos sambistas que ali viviam entre um descarregar de cargas de bananas vindas do interior, e uma pernada nas rodas de Tiririca, a capoeira paulista, jogada com a nata da malandragem paulistana.

Essa movimentação rítmica e cultural na região do Largo da Banana fora fundamental para que outras importantes manifestações carnavalescas desabrochassem em toda a cidade.

Fio de Ouro, Coração de Bronze, Vae-Vae, Rosas Negras, Paulistano da Glória, Campos Elíseos e a mãe de todas as escolas de samba de São Paulo, a Lavapés, fundada por madrinha Eunice em 1937.

Com a expansão do samba por toda a cidade, importantes núcleos de resistência foram se formando. A Praça da Sé era um importante ponto de encontro dos engraxates que, entre uma engraxada e outra, armavam uma roda de Tiririca. Outro ponto ficava na Baixada do Glicério, na "cinco esquinas", próximo à Lavapés e na antiga Prainha, onde hoje fica o Vale do Anhangabaú, que posteriormente seria o circuito dos cordões carnavalescos de São Paulo.

- Leia as edições anteriores

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21/05/2015 00h02

100 anos de samba urbano em São Paulo - parte 2
Tadeu Kaçula

Nesta segunda edição da série que conta os 100 anos de samba urbano em São Paulo, vamos tratar da influência dos rituais africanos e do catolicismo na formação do samba rural paulista.

O samba de São Paulo tem peculiaridades históricas quanto às origens. Diferente do Rio e de outros estados, o samba paulista tem um sotaque totalmente rural por conta de ter suas origens interioranas.

No final do século XVIII, no interior paulista na pequena cidade de Pirapora, às margens do rio Tietê, um grupo de pescadores encontram uma imagem que tinha as feições de Jesus. Eles achavam que se tratava de uma simples imagem perdida por algum devoto e decidiram transportá-la para a cidade vizinha de Santana do Parnaíba.

Parte II - 100 anos de samba urbano em São Paulo

Este transporte se deu em um carro de boi e era conduzido por escravos que trabalhavam naquela região e, ao conduzirem à imagem por uma antiga e esburacada estrada de terra a caminho de Santana de Parnaíba, um dos bois que puxava o carro empacou, o carro virou e a imagem caiu sobre os pés de um dos escravos do cortejo, escravo esse que nascera sem o dom da fala.

Mas ao cair a imagem sobre seus pés, este mesmo escravo falou: "ele não quer ir embora, ele quer ficar aqui". E assim se deu o primeiro milagre do santo e passaram a chamá-lo de "Bom Jesus".

Équela época o preconceito racial e social era tão viril e vistoso que em todas as festas religiosas tinha uma imposição unânime em toda comunidade branca que frequentava e organizava as procissões: "NÉO É PERMITIDO NEGROS NA PROCISSÉO". E assim com a exclusão do negro das festas religiosas, eles se refugiavam em um antigo barracão e lá faziam o que hoje é uma das principais referências do samba paulista: o samba de bumbo.

No barracão, os negros cantavam, dançavam e tocavam e ali reunidos em volta de um grande bumbo que, segundo história oral, era conduzido por Frederico Penteado (o Fredericão), um dos pais do bumbo. Quando alguém queria puxar um canto, um ponto, um verso, respeitando-se a tradição e a hierarquia africana, tinha que pedir licença para o pai do bumbo para cantar seu lamento com festa, dança e muita resistência cultural.

- Leia a edição anterior

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08/05/2015 12h00

Evento: Vinte anos sem Geraldo Filme
Tadeu Kaçula

De 11 a 13 de maio, acontece, no Sesc São Paulo, uma série de palestras sobre a vida e a obra de um dos maiores sambistas do país, Geraldo Filme.

Sambista, compositor e versador, Geraldo foi um dos símbolos na direção contrária aos que chamavam São Paulo de "o túmulo do samba".

Geraldo Filme. Foto: Divulgação

Por conta dos vinte anos de sua morte, o ciclo de palestras discute sua obra musical, suas influências e o legado deixado para o samba paulista.

Conheça os palestrantes:

Kelly Adriano Oliveira

Doutora em Ciências Sociais e Gerente-adjunta da Gerência de Ação Cultural do Sesc São Paulo.

Tadeu Kaçula

Sambista, Sociólogo e Pesquisador da História do Samba Paulista. Fundador do Instituto Cultural Samba Autêntico idealizador da Rua do Samba Paulista.

Amailton Magno Azevedo

Doutor em História e Pós-doutor pela Universidade do Texas. Atua também como músico. Professor do Departamento de História da PUC-SP.

Bruna Prado

Cantora, compositora, professora e pesquisadora. Mestre em Antropologia Social e doutoranda em Música.

Renato Dias

Compositor, músico, produtor musical e fundador do G.R.R.C. Kolombolo diá Piratininga. Realizou com T. Kaçula o projeto "Samba Rural Urbano".

Fernando Penteado

Compositor, embaixador do samba e diretor de harmonia da Vai-Vai.

Simone Tobias

Graduada em Pedagogia, compositora, e ex-presidente da Camisa Verde e Branco.

Geraldo Filme. Foto: Divulgação

As palestras acontecem das 19h às 21h30, na Rua Doutor Plínio Barreto, 285, 4º andar, no bairro da Bela Vista.

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30/04/2015 00h03

100 anos de samba urbano em São Paulo
Tadeu Kaçula

Me sinto muito honrado com o convite em publicar meus textos, artigos e comentários sobre o nosso samba neste espaço tão importante para a valorização da nossa cultura.

Tadeu Kaçula. Foto: Divulgação

Vamos iniciar uma série que conta os 100 anos de samba urbano em São Paulo a partir do samba rural paulista.

Parte I - Ruralidade e oralidade, herança afro-bantu na formação do samba paulista

Os ciclos econômicos do Brasil tiveram um papel fundamental para a formação das diversas manifestações culturais espalhadas em todo o país.

Com a chegada dos africanos, surgiram diversas manifestações culturais que ainda hoje podem ser identificadas no Nordeste do Brasil, como o Maracatu, o Tambor de Crioula, Boi Bumbá, dentre outros.

Séculos depois, inicia-se um novo ciclo econômico, o ciclo do Ouro. Com a migração dos negros que lavoravam no Nordeste, somado aos milhares trazidos do Norte da África, o Centro-Oeste do Brasil se transformou em uma fecunda fonte de extração de minérios.

Com a chegada desses cativos, surgiram diversas manifestações da cultura popular brasileira, que, com a influência do catolicismo, podemos observar ainda hoje, principalmente em Minas Gerais, como o Congado, Folia de Reis, e outros.

Foi no final do século XIX que o mais próspero ciclo econômico trouxe para o Sudeste do país uma significante contribuição político-econômica, o ciclo do café. Neste período, há uma elevação na receita do país pelas diversas articulações na exportação de mercadorias, principalmente do café, que na época era conhecido como "ouro negro". Os negros que trabalhavam no plantio do café traziam em seus diversos conhecimentos a cultura africana e afro-brasileira que fizeram de São Paulo um fecundo terreiro de samba criado e desenvolvido no Brasil.

São Paulo cultua a partir de então o "Samba Rural".

Ainda hoje, respeitando-se os saberes da tradição e oralidade dos ancestrais africanos, esse Samba Rural Caipira é quem dá especificidade ao nosso jeito de fazer samba.

Como referência, temos a cidade de Pirapora do Bom Jesus que ainda preserva o Samba de Bumbo, as cidades de Guaratinguetá e Piquete preservando o Jongo, e as cidades de Piracicaba, Tietê e Capivari que preservam o Tambú, seus ritmos, danças e cantos exclusivamente paulistas que nos permitem uma identidade cultural.

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